terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

(Comunidade #2) Como foi

O segundo encontro em Comunidade (17 de fevereiro de 2018, em Bucelas) deu-se entre a manhã de passeio na Quinta do Boição do Meio, almoço de convívio na Albergaria da Quinta e tarde de conversa no mesmo local.

A chuva matinal impediu os trabalhos voluntários previstos, mas de capas e galochas ainda foi possível fazer um passeio pela Quinta e conhecer os seus trilhos, hortas, edifícios, moradores e alguma flora e fauna local.



A Quinta do Boição do Meio - Centro Subud de Bucelas

A Quinta do Boição do Meio foi adquirida pela Associação Subud de Portugal em 1974, com o propósito de ali se instalar um Centro Internacional Subud.

Desde logo, um plano foi traçado para o desenvolvimento dos seis hectares de terreno. Nasce, assim, o CITIS I - Centro Internacional de Trabalho e Integração Social (I porque seria o primeiro num projeto a replicar).


O Projeto de Desenvolvimento da CITIS I pelo Arq.º Raul Martins/ Gabinete Setia Bakti

Entusiasmados com o projeto, os membros da ASP logo começam a reabilitar as infraestruturas existentes, construindo também novas, como bungalows de madeira onde viriam a residir algumas famílias.
 
 
O edifício da Albergaria aquando da sua "estreia", em 1986
 
Mercê de circunstâncias várias, o projeto não evolui como previsto e de algum modo estagna, sendo tentativamente retomado em várias épocas, em iniciativas que vão mantendo a dinâmica e as infraestruturas existentes.
 
A Associação vai aceitando esta 'justa' dimensão do projeto - e propósito do lugar - que parece não querer receber grandes alterações e massivas presenças humanas. O Centro Internacional Subud de Bucelas persiste, na calma resiliência do "simples" Estar em natureza - e daqueles que assim o procuram.
 
 
Estar e Viver em Comunidade - continuando a conversa...
 
Na conversa que se proporcionou pós-almoço, avançou-se um pouco mais rente à "comunidade".
 
«O que é isso de Estar e Viver em comunidade?»
 
O que é uma Comunidade?
 
Em primeiro lugar, abordou-se o próprio conceito de "Comunidade": geográfica/ territorial ou "de interesses"; a primeira, cultivada intensamente (e intencionalmente), nas inter-relações super próximas da vivência quotidiana; a segunda, de outras formas nutrida, em processos e fluxos de comunicação e interação bem mais "regulados" - porque distantes e pontuais/ "pendulares". Ficou reforçado o sentido territorial da visionada Comunidade.

 
Quais as fronteiras da Comunidade?
 
Depois, abordou-se a questão das fronteiras da comunidade e a sua "auto-suficiência" (alimentar, energética, hídrica). Observou-se que a auto-suficiência vai diminuindo à medida que caminhamos para um contexto mais demarcadamente urbano - ou seja, à medida que a Comunidade se integra numa comunidade já existente. Consumir da produção local (desde que seja boa) pode ser mais sustentável do que ter uma produção própria, conjugando benefícios ecológicos, económicos e sociais (relação com a comunidade local).
 
Daqui partimos para a questão "E será a Cidade uma Comunidade?". Desejavelmente sim e há quem esteja com esse foco de visão e ação - mas cada vez é mais fácil não conhecer a comunidade, viver o quotidiano sem aflorar a vizinhança e tudo aquilo de que podemos dispôr só ali no nosso bairro. Sugestões foram lançadas no "combate" a este "autismo", como o culto dos trilhos, caminhos pedestres na cidade, para conhecer o bairro, a freguesia, os locais e as pessoas.

 
Que visão temos da Comunidade?

Quando questionados individualmente, os participantes variaram muito nas suas visões de Comunidade. É saudável e útil que assim seja:
 
  • Uma aldeia abandonada a repovoar por amigos, assegurando os 4 T's Terra, Trabalho, Teto e Tempo;
  • Um cohousing na cidade, off the grid, criativo e rentável, que resiste à bolha e "paga para ver", sedimentando laços afetivos e de cooperação "de quintal";
  • Uma ética de Estar, Ser e Fazer - válida para a grande Comunidade da Terra, os biomas geoeconómicos, os ecossistemas políticos e socioculturais e os habitats locais (cidades, vilas, aldeias, lugares);
  • Um grupo de pessoas que partilha uma visão e um conjunto de valores, que nutre a comunicação (criativa, positiva, assertiva, não violenta) e o respeito pelo outro e que se "instala" num território para construir em confiança;
  • Uma vasta propriedade, relativamente longe dos centros urbanos, com espaço agrícola, agroflorestal residencial e de serviços, com foco nas novas gerações e na sua educação sustentável.
Houve risos, identificação, surpresa. Cada pessoa é um mundo e nunca sabemos o que está para lá do que vamos percebendo e intuindo. É certo que basta perguntar. Também é certo que as perguntas (e as respostas) trazem mais responsabilidade.
 
O que fazemos agora, com todas estas Comunidades?
 
É o que iremos descobrir na próxima sessão, dia 17 de Março.
 
Para saber mais sobre o "Comunidade - projeto (em) partilha" clique aqui.
 
 

1 comentário:

  1. Grato pela partilha! Como tive oportunidade de dizer 'in loco' tenho o sonho de que a comunidade poderá existir onde quer que estejamos - no campo ou na cidade. Para tal vejo quatro condições essenciais: ver/ouvir o(s) outro(s), aceitar a diversidade e a diferença, cuidar das relações e confiar nas complementaridades. Para tal é indispensável o tempo. Deixo uma citação de um pensador nigeriano muito inspirador (Bayo Akomolafe):
    "Devemos abrandar agora porque correr mais rápido num labirinto escuro não nos ajudará a encontrar a saída. Devemos abrandar agora porque se tivermos de viajar longe, devemos encontrar conforto uns nos outros – com toda a ambiguidade que a vivência em comunidade acarreta. Devemos abrandar porque a resposta correcta não é adequada. Devemos abrandar porque a confiança, a divisa emergente da ‘nova’ história, não é uma questão de eficiência, mas uma criatura de intimidade. Devemos abrandar porque essa é a única maneira de vermos os contornos das novas possibilidades que procuram abrir-se urgentemente para nós."

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